domingo, 1 de janeiro de 2017

Arquitetura moderna em Florianópolis

Quando falamos em arquitetura moderna todos lembram dos suntuosos edifícios projetados por Niemeyer em Brasília, mas o modernismo foi um movimento que se espalhou pelo Brasil afora...





Supremo Tribunal Federal - Brasília


E em Florianópolis, não foi diferente, pesquisando um pouco sobre o tema, descobri inúmeros prédios com influências modernistas na cidade. Cada livro que leio, blogs que acesso, ou andanças pela cidade, faço uma nova descoberta.

Para identificar um prédio moderno é simples, somente tentar encontrar estes pontos definidos pelo arquiteto Le Corbusier:

1 - Construção sobre pilotis: pilares que elevam o prédio do chão, permitindo o trânsito de pessoas abaixo da construção.
2 - Terraço jardim: "recupera" o solo ocupado pelo prédio, transferindo-o para cima do prédio, na laje, em forma de jardim.
3 - Planta livre: as paredes não exercem função estrutural.
4 - Fachada livre: da mesma forma que na planta livre, lembrando que não são permitidos ornamentos nas fachadas.
5 - Janelas em fita: a janela é posicionada de acordo com a melhor orientação solar, ficando de um ponto ao outro da fachada.

Vamos aos exemplos:


Edifício das diretorias, um dos melhores exemplos modernistas de Florianópolis, inaugurado em 1961 (Notar a presença do vão livre no térreo, sustentado pelo pilotis):

 Calçada em petit pave em referência ao calçadão de Copacabana:


Assembléia Legislativa de SC, inaugurada em 1970:


Clube 12 de Agosto (Av. Hercílio Luz) , com um lindo mosaico de Rodrigo de Haro ao lado direito


Instituto Estadual de Educação, inaugurado em 1963


Lagoa Iate Club no Canto da Lagoa. Projeto de Niemeyer:


Prédio da empresa de energia Celesc, no Itacorubi:


Prédio da OI no Itacorubi, enfrente a UDESC:


Prédio sede da Eletrosul, inaugurado em 1978:


Reitoria da UFSC na Trindade:


Terminal rodoviário Rita Maria, inaugurada em 1981:


Lembrando que estes são alguns exemplos... Florianópolis está repleta de elementos arquitetônicos históricos que fazem parte de um patrimônio muito importante para a cidade.





quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O que são Líquens? Os indicadores de ar puro


Provavelmente você já deve ter se deparado com este organismo, seja quando se anda na mata, ou até em alguma árvore ou rocha na sua residência. Estes seres são especiais. Saiba porque....





Não imaginamos, mas os líquens são seres vivos muito complexos, pois se formam por simbiose (união de dois organismos).  A simbiose que forma os líquens ocorre entre uma alga e um fungo. Sendo o Fungo o componente dominante. 

Imagem de microscópio demonstrando a junção da alga com o fungo:


Eles se desenvolvem em diferentes substratos, desde o do nível do mar, até regiões altíssimas (Monte Everest), estando presentes em diversos locais do mundo. Os líquens se instalam em inúmeros locais, como pedras, galhos, troncos de árvores, folhas, ou até no solo. E existem líquens de diversas formas... Crostosos, escamosos, leprosos, foliosos, fruticosos e gelatinosos. Alguns servem de alimento para inúmeros animais.

Como os líquens são extremamente sensíveis a alterações ambientais. São os melhores bioindicadores conhecidos dos níveis de poluição aérea. Eles são muito sensíveis a poluição ambiental e a radiação, portanto só se desenvolvem em locais onde o ar é limpo. Assim, a presença de líquens sugere baixo índice de poluição, enquanto seu desaparecimento sugere agravamento da poluição ambiental.

E o mais sensível é o líquen vermelho. Este só se desenvolve nos locais onde a poluição não chegou ou é quase zero. Ele é muito comum nas trilhas e caminhos da Ilha de Santa Catarina, mas em locais com muitas habitações já é raro encontrá-lo.


 Líquen vermelho, se encontrá-lo tenha certeza que você estará respirando ar puro!



Outros exemplos:
Líquen crostoso:



Líquen fruticoso:




Líquen gelatinoso:


Espero que este post, faça você olhar com outros olhos para estes micro-organismos que como todo ser da natureza, deve ser preservado. Devemos vê-lo como um aliado que nos indica que respiramos ar puro, livre das impurezas criadas pelo ignorante ser humano.


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A pé na Ponte

Foto: José Cipriano.

Reabriram a velha Ponte...

E tomara que seja mesmo como disseram: só para carroças, bicicletas, gente a pé. No máximo para uma ambulância aflita, para um desesperado carro de bombeiros. Apesar de todos os enervantes apertos que acontecem ali na outra, a de concreto, que essa de ferro fique num servicinho leve, de aposentada que ainda quer mostrar sua graça, uma ponte quase de brinquedo.

Falo da Ponte e me bate - agora pra valer - uma vontade que só por comodismo nunca satisfiz: a de percorrê-la andando. Pois vou tratar disso já - abandonar meu carro e minha pressa em qualquer canto, assumir a parte que, como filho de Deus, também me cabe nesse privilegiado camarote, soltar os olhos pelas lonjuras do norte, pelas lonjuras do sul, da mansa flutuação dos Ratones ao talhe imperial do Cambirela, sem os riscos de ser esmagado por qualquer das atarantadas máquinas paras as quais normalmente se fazem as pontes.

Vejam: tantas voltas deu o tempo que chegou o dia de a Ponte ficar assim só pra gente. Ela sempre foi tão ocupada, tão profissional, tão escrava dos motores...

A Ponte e a gente... Nos ermos da minha aldeia, falava-se que na capital havia uma ponte de ferro que atravessava o mar. Como eu não conhecia o mar (sabia apenas que era uma água sem fim), imaginava a Ponte como um mágico travessão unindo o nosso mundo firme a um mundo impreciso chamado ilha. Ouvi depois vozes irônicas dizerem que ela ligava o nada a coisa alguma.

De qualquer jeito, por longo tempo vivi a impaciência de vê-la.

Já falei um dia da pena que tenho dos que nasceram à beira do mar: eles não provaram a inexprimível sensação de descobrir o mar! De minha mulher, coitadinha, a pena é dupla: ela nasceu bem diante da Ponte, cresceu vendo-a todo dia , nunca soube o que é conhecer um mito desses aos treze, catorze anos. Boquiaberto sob as inquietantes colunas, tolo diante dos portentosos elos e correntes, temeroso com a água entrevista pelo vão das tábuas - vencer a Ponte naquele primeiro dia foi como ir à África.

Vou andar a pé pela Ponte, é só uma questãozinha de organização de tempo - e é preciso que esse tempo não seja avaro, se solte em longas demoras. O olhar não pode se incomodar com a mancha dos prédios na paisagem e o supremo prazer será pegar na saída um poente cheio do mais puro ouro catarina. A pé, curtindo cada passo, com a ternura de quem não pisa mas afaga, vou cuidar de ver se amiúdo uma amizade que já vem sem tempo.

Fique a Ponte, pelos séculos que hão de vir, para os pedestres, as bicicletas, as carrocinhas que ainda andam pelo mundo espalhando a repousada beleza das coisas simples.

Crônica de: Flávio José Cardoso, Senhora do meu Desterro, 1991.





quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Filosofia é importante sim

Eu só me pergunto o que será mais prioritário do que estimular as pessoas a pensar... 


Lá estava eu, folheando alguns livros que achei em uma caixinha de doação, quando me deparo com um livrinho pequeno de crônicas, da escritora, jornalista e poetisa gaúcha Martha Medeiros. Ai penso, a autora é ótima, mas "crônicas? putz que chato!"

Pois é, mas como sou uma pessoa curiosa, aceitei o desafio de no mínimo, ler uma crônica. E o estrago estava feito, não descansei enquanto não li todas as crônicas (cerca de 100). E, durante algumas viagens de ônibus de casa para o curso e do curso para casa, devorei cada letra, palavra, parágrafo, crônica. Como um mendigo ávido de fome.

Entre tantas crônicas maravilhosas, muitas sobre relacionamentos (recomendo as mulheres), uma das que mais me chamou atenção foi sobre algo que nos faz pensar. A filosofia.

A famosa escultura "O Pensador" do francês Auguste Rodin.


Eis a crônica (publicada em 2001, por isso a menção a FHC): 

Um projeto de lei recém aprovado pela Câmara propõe a volta das diciplinas de filosofia e sociologia ao currículo do Ensino Médio. Há rumores que o presidente Fernando Henrique Cardoso não sancionará o projeto, preocupado que está com medidas mais prioritárias. Eu só me pergunto o que será mais prioritário do que estimular as pessoas a pensar. 

Caetano Veloso diz em uma de suas músicas que está provado que  só é possível filosofar em alemão. Pudera. Nossa pátria, nossa língua, é escrita e falada por pessoas educadas pela televisão, que recebem tudo editado, traduzido e mastigado. Não há dúvidas de que nossos estudantes pensam: Se o coroa vai liberar o carro para o fim de semana, se a gata vai continuar fazendo jogo duro, se esse tal de Osama Bin Laden vai melar a viagem pra Califórnia. Pensam coisas sérias também. Pensam no futuro, pensam em realizar sonhos, pensam nos seus ideais. Mas pensam estimulados pela Fernanda Lima, pelo Luciano Huck e pelo Renato Russo. Pensam estimulados até por mim, que mantenho uma significativa quantidade de jovens leitores.

É pouco. Muito pouco. É bacana ter ídolos, mas Platão e Aristóteles, esses caras sem rosto e sem idade, que nunca empunharam um microfone, têm o poder de ampliar o campo de atuação dos neurônios. Dizem que a gente só utiliza 5% do cérebro. Filosofar é a puxação de ferro que nos possibilita aumentar esse índice. 

Qualquer ideia que permita maior rendimento escolar e melhor aproveitamento da vida precisa ser recebida com tapete vermelho. Quantas coisas idiotas aprendemos na escola que não nos servem pra nada? Que utilidade há em saber o símbolo químico do alumínio, a não ser para se dar bem no Show do Milhão? Filosofia é pensamento. Mais do que isso, liberdade. Mais ainda, descoberta. Definitivamente, evolução.

Pode parecer uma matéria cacete, daquelas que convidam para uma bela matada de aula. Mas não é. Pensamento é aula prática, praticável no dia-a-dia. Preenche mentes desocupadas (ou ocupadas com bobagens) de ideias consistentes, que levam a conclusões humanistas e libertárias. Fernando Henrique, como sociólogo de profissão e filósofo de ocasião, deveria assinar embaixo de uma vez. Parece um projeto aristocrático, mas é justamente o contrário. Estimular a pensar é política popular.

Martha Medeiros, Montanha Russa - Crônicas. L&PM Pocket. 2003.

PENSE. E tire suas próprias conclusões...